domingo, 29 de março de 2015

Iêmen: ianques e sauditas tentam frear influência iraniana


Como em uma doutrina monroe árabe, a Arábia Saudita dá o recado no Iêmen: não admitirá o crescimento da influência do Irã, que apóia a milícia shi'a Houti, cuja investida contra o presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi incrementou a já conturbada situação no país e levou ao ataque do território iemenita pela coalizão saudita.

A crise iemenita deve ser entendida dentro do fenômeno das ditas "primaveras" árabes. Tal movimento consistiu, em seu início, em levantes de caráter espontâneo, diante da insatisfação popular com seus governos (em regra, ditaduras alinhadas ao Ocidente) que, em dado momento, foram "adotados" (cooptados) pelo mesmo imperialismo ocidental, para se livrar de tais "aliados" já não tão oportunos. Um fenômeno similar pôde ser visto nas "jornadas de junho" de 2013 no Brasil, que, se em seu nascedouro tinham pautas legítimas, acabaram por degenerar em pautas reacionárias. No Iêmen tal "primavera árabe" resultou na deposição de Ali Abdullah Saleh e na ascensão do agora também deposto Abd Rabbuh Mansur Hadi.

À parte as contradições dentro dos próprios campos, pode-se perceber que na crise instalada há dois grandes blocos em conflito. De um lado, o bloco saudita-sionista-estadunidense, objetivando, como dito, manter o status quo. Em especial, há que notar que o monarca da Casa de Saud desde final de janeiro, Salman bin Abdul Aziz, conhecido por ser "linha dura", precisa mostrar força. De outro lado, o bloco xiita Houti alinhado ao Irã. Evidentemente, nos marcos de tal disputa geopolítica nosso apoio está com esses últimos.

A matéria abaixo foi extraída aqui.

Ministro do Iêmen diz que diálogo com houthis ainda é possível

Ataques aéreos liderados pela Arábia Saudita atingem bases rebeldes xiitas em várias regiões iemenitas. Ministro iraniano nega que conflito no Iêmen afetará negociações nucleares com potências mundiais.

O ministro iemenita do Exterior, Riad Yassin, disse nesta sexta-feira (27/03) ainda ser possível um diálogo com a milícia xiita houthi, apesar de a campanha militar liderada pela Arábia Saudita contra os rebeldes no Iêmen já ter entrado no segundo dia. "O diálogo era necessário, e ainda é. Mas tem que ser um diálogo sob o princípio da legitimidade do presidente e do Estado, e não legitimidade de golpes e milícias", afirmou Yaseen pouco antes do início da cúpula da Liga Árabe, no Egito.

Nesta sexta-feira, a coalizão militar comandada pelos sauditas ampliou os ataques aéreos, iniciados no dia anterior, sobre bases dos houthis, apoiados pelo Irã. Cerca de 40 pessoas já morreram na ofensiva, que conta com a participação de diversos países árabes, como Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Egito.

Pelo menos cinco províncias já foram atingidas e cerca de 40% das defesas aéreas do Iêmen foram destruídas. Aviões de guerra dos aliados bombardearam uma base aérea localizada na rica província de Mareb, controlada por soldados leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, que apoia os houthis. Os ataques destruíram ainda um radar que estava dentro da base, localizada ao lado de um campo de petróleo.

Na capital, Sanaa, jatos dos aliados bombardearam o palácio presidencial, ocupado pelos rebeldes há mais de um mês, e instalações militares controladas por tropas ligadas ao ex-presidente Saleh.

Também ocorreram bombardeios na base aérea de Anad, controlada pelos rebeldes, a apenas 50 quilômetros na cidade portuária de Aden, no sul do país – de onde o presidente Abd Rabbuh Mansur al-Hadi vinha governando desde que os houthis tomaram completamente a capital, em fevereiro.

Monarquias árabes sunitas que mantêm rivalidade com o Irã temem que uma eventual queda de Hadi abra caminho para o avanço xiita no vizinho Iêmen. Na quinta-feira, o presidente iemenita deixou o refúgio em Aden e chegou a Riad sob proteção saudita.

Influência sobre acordo nuclear

Nesta sexta-feira, o ministro iraniano do Exterior, Mohammed Javad Zarif, tentou minimizar questionamentos sobre a possibilidade de a situação no Iêmen influenciar as negociações em curso para um acordo nuclear entre Teerã e o chamado grupo Cinco mais Um (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França, as cinco membros do Conselho de Segurança, mais a Alemanha). Segundo Zarif, as negociações continuam focadas em alcançar a um acordo.

"O Iêmen é o tema quente do dia" e chegou a vir à tona durante as conversas, disse o chanceler, "mas isso não significa que negociamos algo em torno disso", afirmou.

O conflito no Iêmen tem alimentado temores de que o país se torne palco de uma guerra entre o Irã, acusado de apoiar os rebeldes xiitas, e a Arábia Saudita, governada por sunitas que apoiam Hadi. No início da semana, a ONU afirmou que o Iêmen está à beira de uma guerra civil.

MSB/ap/dpa/rtr
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...