segunda-feira, 5 de junho de 2017

A educação no Rio Grande do Sul sob ataque


Publicamos a seguir uma entrevista concedida a nós pela companheira "Mariana Silva", militante do CPERS- Sindicato dos Professores e Trabalhadores da Educação do Rio Grande do Sul. Fala da situação da categoria, da luta contra os ataques neoliberais do governo Sartori (PMDB) e as reformas do governo Temer.

Coletivo Espaço Marxista: De qual sindicato faz parte? É filiada?

Mariana Silva: Filiada ao CPERS/ Sindicato, atuando há 23 anos na categoria.

CEM: Qual a situação dá tua categoria hoje no RS?

MS: Situação muito difícil com o tratamento de descaso do atual governo. A categoria sente-se desmotivada com o arrocho e parcelamento do salário, bem como com o sucateamento da rede. Prevê e já sente as consequências negativas da implantação da privatização, com o fechamento de escolas, de turmas, falta de concurso, menos nomeações, mais contratos temporários, aumento da carga horária de trabalho, falta de investimento e políticas de formação.

Em alguns casos, quando estamos em greve, há ameaças e coações a colegas. O comando de greve não é bem recebido pelo governo. Em manifestações no ano passado, sofremos com atuação violenta e truculenta da polícia, a mando do governo.

Isso tudo faz com que a categoria até mesmo sinta-se menos motivada para continuar na luta.

CEM: Qual a tua opinião sobre as reformas trabalhista, previdenciária e a terceirização?

MS: Uma Reforma Previdenciária pode ser feita. Porém não essa que cobra a conta somente do trabalhor com menor remuneração que em nada contribuiu para o rombo previdenciário. É preciso uma CPI na Previdência para evidenciar os maiores devedores e fazê-los pagar o que devem.

A reforma trabalhista simplesmente suprime direitos históricos dos trabalhadores. É um retrocesso de décadas, que ficará muito difícil de retomar posteriormente. As empresas, o sistema, só opera, só gira graças ao trabalhador. E ele, além de produzir/gerar a riqueza, ele ainda consome. Quer dizer, sem a ação do trabalhador esse sistema não se sustenta. Mas é esse mesmo sistema, capitalista, que deseja oprimir e sugar cada vez mais do trabalhador. Não há limite para o seu ganho, até mesmo se precisar tira a dignidade do seu trabalhador para que o capital seja cada vez maior e possa ser acumulado.

Essa situação de que o "negociado pode estar acima do legislado" é o maior engodo trabalhista. Quem vai mandar é o patrão e pronto. Ao empregador caberá aceitar as condições impostas para manter o emprego.

O projeto da terceirização visa diminuir encargos e direitos ao trabalhador. Privando o mesmo de vículos empregatícios maiores e fazendo com que o empregador economize não tendo a necessidade de arcar com certos tributos e diretos trabalhistas.

CEM: O teu sindicato dá importância para a regulamentação do setor de comunicação [nota explicativa da pergunta: o Coletivo Espaço Marxista entende que os sindicatos, e os trabalhadores em geral, precisam dedicar importância ao trabalho de comunicação, no combate à mídia hegemônica]? Qual a tua opinião individual sobre isso?

MS: Sim, dá importância. Mas não está fazendo uma discussão mais aprofundada. Pelo menos eu não sei se está. Minha opinião é que há cerceamento de opiniões, ideias, posturas, etc. É preciso ética para qualquer manifestação, mas a pluralidade e a possibilidade de expressão devem ser mantidas e respeitadas sempre
.
CEM: Em que o pacote de austeridade acordado com o governo federal irá refletir na tua categoria?

MS: Já está afetando diretamente, no que se refere à diminuição ou congelamento/controle de investimentos na educação, que o governo chama de "gastos". Nas privatizações que o governo já está implementando em vários setores e fundações. Na falta de expectativa de reposição salarial ou aumento. Na possibilidade de alteração no plano de carreira dos professores e achatamento dos níveis, fazendo com que possamos receber menos ainda do que recebemos. Na possibilidade de escolas serem atendidas por pessoas de 'notório saber', sem a qualificação específica ou ao menos uma graduação. E esse notório saber será julgado sem referências ou padrões estabelecidos. Nas parcerias público/privadas onde as escolas para terem valores financeiros disponíveis poderão fazer acordos com empresas (bancos já demonstraram interesse), tendo um currículo voltado para tal especificidade, ou seja formar mão de obra barata.

Enfim, a situação está muito difícil para o trabalhador e para aquele que percebe a voracidade do sistema capitalista.

Nossa luta não é individual nem local. Ela é maior. É a necessidade de uma consciência de classe que perceba a situação de espólio que vive mais uma vez; e que para barrar essa ação de tentativa da manutenção e consolidação do sistema, precisamos de mudanças profundas em nossa sociedade. Políticas populistas não bastam. Precisamos de Reforma Agrária, rever a proposta educacional que poderia amparar-se no paradigma da Educação Popular, pois não basta garantir o acesso, é preciso a qualidade e garantia de permanência.

Precisamos de ações e políticas públicas voltadas ao público e não ao grande capital.

Já tivemos no RS uma experiência de investimento no pequeno e médio produtor e micro-empresário, entre 1999 e 2002. Esta experiência poderia servir de base para repensar o Brasil e construirmos uma nova realidade, aliados numa 'boa luta'.
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